“A minha maior barreira é o idioma.”
Por Matheus Salatiel Borges Corrêa — 2ª “B”
Foi assim que respondeu o intercambista Grégoire Jacques, de 18 anos, provindo da Bélgica, em entrevista realizada na manhã de 20 de setembro de 2017, quando questionado acerca de seus empecilhos para com a total integração.
O migrante afirmou ter optado por fazer um intercâmbio de um ano no Brasil com propósito de tirar um período sabático para si. Tendo terminado o ensino médio, Grégoire encontra-se num momento de indecisão em relação a seu futuro, numa certa espécie de limbo, como interpretado a partir de algumas de suas respostas. Seria então o ano sabático um pequeno escape do peso iminente da vida adulta, amiúde uma maneira de viajar para encontrar-se, como já diria Brenna Smith.
A escolha do nosso país fez-se por motivos que tanto caracterizam a Nação Canarinha: praia, garotas e pessoas acolhedoras. Mas os estereótipos não param por aí: ao preparar-se para o intercâmbio, conheceu uma de nossas personagens mais célebres, a burocracia, sendo obrigado a preencher muita papelada. Chegando aqui, diz ter estranhado outras mazelas bem conhecidas de nossa sociedade: a insegurança e a desigualdade social, problemas quase inexistentes no Reino da Bélgica; nosso excesso de contato físico também lhe foi estranho, achando até um pouco esquisito o ato de abraçar pessoas indistintamente, contando-nos que, em seu país, só o faz com sua namorada.
Entretanto, afirmou e reassegurou-nos diversas vezes durante o bate-papo que estava a gostar muito de Nossa Terra, cá estando apenas há dois meses, porém já tendo feito algumas amizades entre brasileiros e intercambistas e tendo evoluído rapidamente em nossa língua, ainda que não reconheça isso. Em apenas um mês, já conseguia dialogar em português conosco. No momento da entrevista, respondeu a quase todas as indagações em português, precisando da tradução de apenas duas.
Sua adaptação cultural tem sido rápida, como demonstrado ao cantar músicas populares brasileiras e ao listar comidas locais. Sendo nosso quotidiano arroz com feijão um de seus novos acompanhamentos prediletos.
Quando indagado acerca de questões relativas a seu futuro profissional, demonstrou-nos ainda não ter respostas. Sendo indeciso entre a carreira de engenheiro industrial ou fisioterapeuta, sendo esta preferível por questões vocacionais e aquela por questões financeiras. Sendo seu desconforto ligeiramente notado nesse momento da entrevista.
Em suma, a conversa mostrou-nos que apesar de diferenças linguístico-culturais entre os jovens, os gostos e anseios são os mesmos, sendo a transição da mocidade à vida adulta uma fase de confusão e desassossego universal, na qual procuramos nosso lugar no mundo e, por vezes, precisamos apenas de momentos de escape e descontração para melhor compreendermo-nos. Do mesmo modo, pôde-se ver que mesmo saindo de algum lugar, como já diria Amadeu de Almeida Prado, parte de si é deixada lá, sendo os vínculos dele com sua terra inquebráveis e o alongamento dessas cordas, a sensação que chamamos de saudade.